1as Jornadas Luso-Brasileiras de Pensamento Contemporâneo - O Futuro da Mente: entre a Tecnologia e a Arte

A pesquisa sobre a mente humana caminha lado a lado com o desenvolvimento de tecnologias chamadas de inteligentes e cognitivas. Alguns exemplos são os sistemas de inteligência artificial, a realidade virtual e aumentada, a internet das coisas, os robôs domésticos que vão pouco a pouco se popularizando. O desenvolvimento tecnológico e a investigação sobre a cognição são áreas capazes de se informar mutuamente; nesse sentido, os sistemas artificiais e robóticos têm colaborado para revelar a complexidade da cognição humana. 

Do entusiasmo dos anos iniciais da IA – em que se desejava recriar as capacidades humanas em máquinas – aos sistemas preditivos atuais baseados em algoritmos, temos constatado que a atividade mental humana não é uma tarefa trivial. Por um lado, não se pode nem se deve esquecer que a mente humana não se resume apenas à atividade neuronal, numa palavra, aos nossos cérebros; ainda que tal sucedesse, permanecer-se-ia ainda num impasse pois ainda há muito por descobrir e compreender. 

Um outro aspecto da nossa complexidade passa pelo envolvimento corporal existente nas actividades cognitivas que estão cada vez mais documentadas. A intervenção do corpo nessas actividades cria um vínculo (na produção) de sentido, faz mergulhar no coração da experiência fenomenológica da realidade, na experiência vivencial dos sentidos e das sensações, no âmago das relações intersubjetivas que fazem acontecer mundo – dimensões essenciais do nosso modo de estar e ser no mundo. Ora, é neste sentido que a experiência estética ganha relevância e sentido, pois ela toma em si tais dimensões essenciais da existência humana para construir e desvendar sentidos, quer para o mundo quer para a própria arte. 

Muito do que é o pensamento contemporâneo gira em torno da afirmação (tema) destas primeiras jornadas luso-brasileiras: o futuro da mente humana e como a tecnologia ou a arte podem ajudar não só na sua clarificação como na sua compreensão. Se por um lado, a arte parece ter essa extraordinária capacidade de ilustrar ou de mostrar uma certa concepção da mente humana e dos seus feitos, por outro lado, tem sido a tecnologia a revelar algumas das suas potencialidades. Naturalmente, os desafios que se colocam, inclusivamente aos artistas, são enormes e sugerem a emergência de novos quadros de entendimento para as próximas décadas. 

A investigação - seja científica ou artística - deve ter presente que é necessário redescobrir ou reclassificar novos fenómenos tecnológicos, sociais, políticos e artísticos. A criação de diálogos entre disciplinas não pode ser um sonho adiado e alguns artistas contemporâneos incorporaram já nas suas obras reflexões e expressões da tecnologia e com a tecnologia e com a ciência (alguns exemplos disso são a bioarte, a neuroarte, technoarte) do mesmo modo que os neurocientistas passaram a incorporar nas suas teorias reflexões e teses de filósofos, sociólogos e artistas. Se se deseja investigar os possíveis caminhos que a nossa mente pode tomar num universo marcadamente tecnológico, a arte poderá conter a expressão desse caminho ou pelo menos suscitar e ilustrar a reflexão a fazer sobre ele. 

Acreditando assim que os pilares dessa investigação (num futuro próximo) se fundamentará nas expressões vinculadas do que a arte e a tecnologia tem para oferecer - admitindo que a dimensão estética proporciona uma visão mais alargada do mundo - estas jornadas propõem-se travar um diálogo multidisciplinar sobre o futuro da mente humana.